Mãe
Tenho tanto frio mãe
Têm estado umas noites de vento
Como quando morávamos
naquela casa
Tenho tido medo
Tinham-me dito que a saudade era assim
Que nunca passava e não passa
Aparece-me de surpresa
No cheiro dos pinheiros
No calor morno de Outono
Digo isto e já nem há Outono
Não há estações não há nada
Mas há dias com uma luz uma cor
Uma coisa indefinida
Nesses dias eu regresso
Eram dias tão calmos na vila pequena
Eu acreditava em toda a espécie de inatingíveis
Aprendi a viver com este coração
Alcancei a leveza de saber
Vou carregar sempre algumas dores
Os grandes abalos de alma
Perdi o meu filho
Tu foste embora
Perdi a ilusão de alguns afectos
Perdi o sítio para onde voltava
A casa as escadas as janelas
Peguei nos móveis e levei para outros sítios
Está tudo disperso tenho uma casa em tantos lugares
Tenho um coração que me abriga
Digo e repito mil vezes
Sigo-o até ao fim do mundo
De tanta gente ficou tão pouca
Curiosamente tornei-me tão leve